Augusto Pascutti

Por que VIM?

Já escrevi sobre meu ambiente de trabalho antes então o fato deu usar VIM não deveria ser novidade. Adoro discutir e observar como cada desenvolvedor trabalha no dia a dia mas odeio o fato de ter que compartilhar o editor que várias pessoas usam só pra demonstrar alguma habilidade – ou a falta dela.

Eu não escolhi usar VIM, escolhi usar o terminal

Over 1 year, the average Vim user saves 11 minutes in productivity. However, they lose 27 hours through evangelising Vim to non-users.

– I Am Devloper (@iamdevloper) April 15, 2015.

Acho que a maioria das pessoas que usam VIM só querem exercer algum tipo de superioridade com relação às outras. Acredite em mim quando digo: Você não deveria usar vim. Siga com as ferramentas que te fazem produtivo, que saem do seu caminho e que te fazem sentir confortável. Nunca esqueça que você é livre e que as ferramentas que você usa pra produzir software são só ferramentas.

vim é aquela ferramenta que todo programador quer bancar o fodão diz que usa #phpexperience.

– Valdir Bruxel Junior (@hagnat)

Eu escolhi VIM ao Emacs por preguiça. Ele já estava instalado em todos os servidores e ambientes com que tenho contato. Assistir a animação após executar um ALT/CMD+TAB entre o terminal e o Sublime Text do OSX me matava (literalmente) de ansiedade e eu já passava a maior parte do tempo no terminal mesmo.

Não estou satisfeito com VIM ainda, mas minhas frustrações são menores que as satisfações que ele me dá.

Comendo boa comida

“The heart of Unix philosophy is the idea that the power of a system comes more from the relationships among programs than from the programs themselves.”

– Rob Pike

Eu já tentei várias vezes mostrar o poder do terminal pra vários desenvolvedores. Acredito que pra desenvolver bom software é necessário consumir bom software, entender os problemas e as soluções dadas leva tempo e determinação. Quanto mais simples a solução, mais difícil de etendê-la.

Já pensou, por exemplo, em porque o LAMP é popular? Te garanto que os WAMPs da vida vieram depois dessa popularização. Estou longe de entender completamente o porquê, mas consigo compartilhar um pouco da minha visão atual:

  • Linux dispensa apresentações. Sério.
  • O Apache HTTPD é estável, robusto, eficiente e largamente utilizado. Além de ser extramemente flexível: um ótimo Proxy, possui boas opções de segurança e muitos outros plugins embutidos.
  • O MySQL é simples e robusto. Você pode confiar nele pro seu blog pessoal, quase todos os outros blogs do planeta, ou quase todo o conhecimento. A chance de você usar ele sem nem saber o arquivo de configuração dele é grande.
  • A arquitetura shared nothing do PHP: Uma requisição, um novo processo. Sem memória compartilhada. Torna ridiculamente simples o desenvolvimento, a escalabilidade e os hosts compartilhados.

Todos esses caras são grandes softwares, em todos os sentidos. Possuem, no sentido de desenvolvimento, uma grande equipe de contribuidores e muitas linhas de código. Mas possuem outra característica em comum: Fazer uma coisa e fazer bem.

Passar bastante tempo no terminal pode parecer uma penitência, e é por muito tempo. Mas aprender como as pequenas ferramentas podem funcionar juntas é fascinante pra dizer o mínimo. Com o passar do tempo você se sente com super poderes: você gerencia seus TODOs, suas contas, stalkeia, conversa e derruba aquele site safado sem sair da shell.

Com o passar do tempo, você passa a identificar melhor o problema que cada algoritmo deve resolver. Quais soluções e problemas existem além de como usar elas e eles de forma melhor. Você não vai deixar de usar o Google, perguntar ou ler. Pelo contrário! Mas te garanto, você vai aproveitar muito mais as coisas se tornando um preguiçoso invejável – eu ainda chego lá.

Como desenvolvedor isso afeta diretamente o produto final de seu trabalho.

Você deveria usar mais a shell

Esqueça aquele lance babaca de dividir seu terminal em várias partes e abrir 73 abas pra se sentir no Tron. Comece a fazer tudo que você puder no seu dia a dia dentro de uma shell. Veja como melhoras seu fluxo de trabalho antes de fazer algo que você não precisa e procure entender o que cada ferramente oferece.

Escolha a ferramenta do mês, o grep por exemplo. Aprenda tudo que puder dele, use-o em tudo que puder mesmo que sem necessidade. Quer ver um log? Grep. Buscar ocorrências de uma classe/método? Grep. Achar um commit? Grep. Saber quantas vezes você usou um comando? Grep. Buscar ajuda? Grep. Continue até sua mulher/marido perguntar de manhã “Quem é essa tal de Grep?”.

Você vai encontrar casos em que a ferramenta não é útil. Ótimo! Você sabe pra que não usá-la então só falta achar uma boa (ou um conjunto) que torne aquilo possível. Garanto que ela(s) já existem.

Mas minha IDE já faz tudo isso!

– Você. Sendo um babaca.

Sua IDE não vai transformar você num programador melhor, ela é uma ferramenta. Assim como o melhor pincel do mundo, com todas as cores do mundo, não faz de você o melhor pintor do mundo. Enquanto um pintor experiente, com um pincel bosta e poucas cores consegue provar por que ele é o melhor pintor do mundo.

Exerça seu direito de nascença e seja livre de todas as ferramentas. Aprenda a usar as mais básicas e a fazer tudo com elas. Imponha esse limite a você mesmo e ganhe continuamente com ele. O caminho esta cheio de ajuda.

PS: Fiz uma palestra sobre tudo isso, se você quiser ver os slides, eles estão disponíveis.

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